O Agora 2025


Camila Caringe

22 de janeiro de 2025

A administração Trump planejou, na terça-feira (21), que os funcionários que supervisionavam os esforços de diversidade, equidade e inclusão nas agências federais fossem colocados em licença imediatamente. O prazo é até quarta-feira (22) à noite. O decreto determina ainda que as lideranças tomem medidas para a redução de pessoal e o encerramento de escritórios até 31 de janeiro. O memorando também instrui as agências a remover qualquer linguagem inclusiva ou anúncio sobre programas de diversidade. Com a nova ordem, Trump encorajou o setor privado a seguir o exemplo do Governo Federal e acabar com os programas de diversidade e equidade, que se tornam ilegais. 

Mas verdade seja dita: as pressões da extrema direita já vinham causando seu efeito muito antes das eleições. Em junho de 2023, a Suprema Corte dos EUA, impulsionada pela maioria conservadora, encerrou a política de cotas raciais em universidades de todo o país, descartando décadas de precedentes na vida americana. Os juízes concluíram que as políticas de admissão na Universidade de Harvard e na Universidade da Carolina do Norte violavam a cláusula de proteção igualitária da Constituição dos EUA.

A partir deste entendimento, grandes e pequenas empresas se sentiram licenciadas a rever seus próprios avanços no eixo social da sustentabilidade corporativa, inspiradas pelo ambiente jurídico permissivo, pelo contexto político em inclinação à direita e pela pressão cada vez mais articulada de conservadores que defendem seu direito à expressão violenta e à manutenção de preconceitos.

No ano passado, a Ford alterou suas políticas de diversidade e inclusão. Jim Farley, CEO da companhia, afirmou em um e-mail aos funcionários que a empresa “mudou o foco dos grupos de recursos humanos e encerrou a participação em pesquisas externas de cultura”, realizadas pela Campanha de Direitos Humanos, um grupo de defesa LGBTQ+. Mas em 2017, a mesma Ford tinha se vangloriado pelo reconhecimento da organização como um dos melhores lugares para trabalhar, justamente pela igualdade LGBTQ+.

Ainda em 2024, a fabricante de motocicletas Harley-Davidson abandonou iniciativas de diversidade, equidade e inclusão. A nota oficial informa que a marca não tem mais metas de fornecedores comandados por representantes de minorias. O comunicado ainda diz que a empresa limitaria o treinamento aos requisitos legais. O Walmart fez o mesmo. A Boeing também.

No último agosto, a BlackRock, maior empresa de investimento do mundo, informou que tinha reduzido seu apoio às propostas de acionistas que abordavam questões ambientais e sociais. De julho de 2023 até junho do ano passado, a empresa apoiou apenas 4% das 493 propostas. Em 2021, a BlackRock apoiou 47% das propostas apresentadas por acionistas ativistas. Mas como, se o CEO Larry Fink foi um dos primeiros grandes capitalistas a anunciar a emergência climática como uma ameaça aos negócios no mundo inteiro?

Em sua influente carta anual, Fink vinha fazendo alertas e incentivando investidores a adotarem práticas sustentáveis e trabalhar com propósito. Na sua carta de 2020, por exemplo, ele escreveu: “Estaremos cada vez mais dispostos a votar contra a gestão e os conselhos de administração quando as empresas não estiverem fazendo progressos suficientes nas divulgações relacionadas à sustentabilidade e às práticas empresariais subjacentes.”

Em 2023, os ventos começaram a mudar. Primeiro ele afirmou que o termo “ESG” teria se desgastado e sido o culpado por polarizar politicamente as nações do mundo ocidental, especialmente nos Estados Unidos. Em 2024, a carta foi pragmática, com foco em investimentos para a aposentadoria. A grande motivação da virada teria sido a pressão de investidores conservadores que, incitados por grupos de direita como a Heritage Foundation, acusaram grandes corporações de praticarem o “capitalismo woke”. Pelo menos 20 estados promulgaram leis locais que proibiram fundos públicos de investir em ESG. Neste mês de janeiro de 2025, a gigante gestora de ativos retirou a sua adesão à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Clima, alegando que a sua participação em tais organizações causou “confusão em relação às práticas da BlackRock e a sujeitou a inquéritos legais de vários funcionários públicos”.

E a fila de desistentes não termina de passar: quatro anos depois de lançar um esforço por mais diversidade nas unidades de suas filiais, o McDonald’s anunciou nos primeiros dias deste ano que vai revogar metas específicas para alcançar a diversidade nos níveis de liderança sênior. A empresa também pretende acabar com o programa que incentiva seus fornecedores a desenvolverem formação em diversidade e a aumentar o número de membros de grupos minoritários.

Observando a linha do tempo, até que demorou para Mark Zuckerberg anunciar que sua empresa abandonaria os programas de checagem de informações que circulam em suas plataformas (Instagram, Facebook, Threads e WhatsApp). Mark estava lá, na posse de Trump, ao lado de Tim Cook, CEO da Apple, Sundar Pichai, CEO do Google, Jeff Bezos, CEO da Amazon, Shou Zi Chew, CEO do TikTok, e Sam Altman, CEO da Open AI. O grande destaque foi Elon Musk, dono da Tesla, da Space X e do X. Musk foi nomeado por Trump e vai chefiar o “Departamento de Eficiência”. Ninguém sabe ao certo o que isso significa, mas Musk comemorou como se a posse da presidência fosse dele. E não se furtou de fazer um gesto muito parecido com uma saudação nazista – vamos dar o benefício da dúvida? Enfileirados um ao lado do outro, os homens de perfil semelhante deixam claro que diversidade não é com eles.

No Brasil, não foram poucas as vezes em que o Deputado Federal, Eduardo Bolsonaro, saiu em defesa do legado de seu pai e atacou as políticas que visam preservar o meio ambiente. Em julho de 2024, na Conferência de Ação Política Conservadora – Brasil, Eduardo aproveitou a companhia de figuras como Nikolas Ferreira, Ricardo Salles e Javier Milei, para bradar aos ativistas da extrema-direita que lutem para que políticas globais ESG sejam inviabilizadas. “Ser de direita, gente, em bom português, é ser contra a agenda ESG. Ser de direita é ser contra a Agenda 2030 da ONU. Nós defendemos a liberdade”, afirmou durante sua apresentação no evento que aconteceu em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Dado o contexto, a esperança da humanidade meio que está na oposição coordenada. Líderes da União Europeia reafirmam que manterão seus compromissos climáticos, mesmo sem o apoio dos EUA. Conseguirão conter o ímpeto da iniciativa privada? Países em desenvolvimento, mais frágeis e dependentes de apoio moral, ideológico, financeiro e tecnológico, precisam de tempo para digerir a avalanche de decretos tão abrangentes no retorno de Trump. A China, por sua vez, pode tentar preencher o vácuo de liderança climática deixado pelos Estados Unidos, fortalecendo sua posição. Olhando daqui o futuro parece muito incerto.

Em algum momento, o senso comum admitiu que as convenções da ONU encerrariam a pacificação do entendimento. Que a clareza límpida da emergência climática uniria o tecido social no mesmo empenho pela sustentabilidade, com dissonâncias pontuais, isoladas. Precisamos ser objetivos agora: o desafio é imenso, menos pela quantidade e mais pela qualidade da força destrutiva. Fechamos o ano de 2024 com 2.781 bilionários no mundo. Mas somos 8 bilhões de seres humanos não-bilionários, interessados em que a era da pós-verdade não preceda a era do pós-planeta-Terra. Os Governos, as empresas e a sociedade civil terão de redobrar seus esforços para garantir que os retrocessos não se tornem permanentes.

 

Camila Caringe é jornalista e se dedica a cobrir assuntos de sustentabilidade ambiental, social e de governança no Brasil e no mundo. Acompanhe o canal ESG Insights no Instagram, Tik Tok e também no YouTube.

https://diplomatique.org.br/trump-voltou-o-que-podemos-esperar-das-praticas-corporativas-esg/




O problema do “propagandismo” e da ilusão do ativismo exclusivamente virtual

Leia:  https://uvljr.wordpress.com/2021/09/18/o-problema-do-propagandismo-e-da-ilusao-do-ativismo-exclusivamente-virtual/

O que é a verdade? – 

Alan Woods  

“O que é a verdade?”, disse Pilatos brincando, e não quis esperar pela resposta.

Assim começa o ensaio de Francis Bacon, Of Truth . Bacon estava se referindo ao Evangelho de São João, no qual Jesus, quando questionado pelo governador romano, diz: “Eu vim ao mundo para dar testemunho da verdade”.

Em resposta, Pilatos, não sem uma forte dose de ironia, profere as palavras: “ O que é a verdade ?” Com essas poucas palavras, ele não mostra que era um cínico no sentido moderno da palavra (embora provavelmente fosse), mas um homem educado e adepto de um ponto de vista que era comum entre as classes altas romanas, cultas e cansadas do mundo naquela época.

Pilatos não esperou por uma resposta pela simples razão de que não acreditava que uma resposta fosse possível. Uma filosofia da moda daquele período – o produto de uma sociedade decadente – afirmava que era impossível chegar a qualquer concepção objetiva da verdade.

Esse tipo de subjetivismo extremo (idealismo subjetivo) não é novo. Ele surge periodicamente na filosofia como uma espécie de tique nervoso, ou melhor, um paroxismo que desespera de chegar a algo que se assemelhe à verdade objetiva.

Encontrou sua expressão mais completa e consistente nos escritos do famoso sofista grego, Górgias de Leontini, que afirmou que: (1) nada existe; (2) mesmo que existisse, sua natureza não pode ser compreendida; e (3) mesmo que pudesse ser compreendido, não poderia ser comunicado a outra pessoa.

Sofistas como Górgias foram os ancestrais do ponto de vista filosófico conhecido como ceticismo. No geral, Hume e Kant não foram muito além disso. São todas variações do mesmo tema. Foi levado ao extremo pelo bispo Berkeley, que Lenin

respondido em detalhes em uma de suas obras teóricas mais importantes, Materialismo e Empirocriticismo.

Mas provavelmente o expoente mais influente de um tipo de ceticismo foi o grande filósofo alemão do século XVIII, Immanuel Kant.

KANT

Kant foi um dos pensadores mais originais e significativos de sua época. Ele fez uma série de descobertas brilhantes, notavelmente no campo da cosmologia. No entanto, ele nunca conseguiu escapar da armadilha do dualismo filosófico, que sustenta que o mundo do pensamento e o mundo material existem independentemente um do outro.

Quando ele descobriu que havia contradições insolúveis na maneira como entendemos o mundo material, ele concluiu que deve haver um limite absoluto para nossos poderes de compreensão.

Kant pensava que havia um abismo intransponível entre o sujeito pensante e o objeto da cognição. De acordo com a teoria kantiana, somos desligados da realidade por meio das mesmas ferramentas que em vão empregamos para entendê-la.

Ele, portanto, afirmou que só poderíamos ter conhecimento de fenômenos – coisas como elas aparecem para um observador . O conhecimento humano era, portanto, restrito ao conhecimento imediato da percepção sensorial, além da qual estava a misteriosa “coisa em si” ( das Ding an sich ), que ele declarou ser incognoscível.

CETICISMO HOJE

Desde Kant, o ceticismo ressurgiu repetidamente em diferentes disfarces. Cada disfarce pode ser diferente, mas o conteúdo essencial permanece o mesmo: o conhecimento humano é limitado e há certas coisas que nunca podem ser conhecidas.

Alguns filósofos (paradoxalmente tomando o empirismo como ponto de partida) assumem que o mundo não existe de forma alguma. Outros tentam fugir completamente do assunto, alegando que o conflito entre idealismo e materialismo é uma "não questão" e o produto de um mau uso da linguagem ou mal-entendido.

A mesma atitude cética pode ser vista no mundo acadêmico de hoje, onde as mesmas velhas ideias mofadas e desacreditadas foram recentemente resgatadas sorrateiramente da lata de lixo da história e ressuscitadas sob o disfarce do chamado pós-modernismo.

Aqui, escondendo-se atrás de um fino disfarce de objetividade espúria, o narcisismo essencial do intelectual pequeno-burguês se expõe em toda sua glória nua. Seguindo servilmente esse caminho bem trilhado, a filosofia burguesa moderna acabou em um beco sem saída.

No lugar da verdade, temos apenas a minha verdade, minha opinião pessoal, porque isso é tudo o que eu posso aspirar a saber. A busca pela verdade objetiva real aqui chega a um ponto final, já que minha verdade é tão boa quanto a sua verdade . Na verdade, de acordo com essa teoria, minha verdade é infinitamente superior, já que somente eu existo .

Uma tendência irracional

Sejamos claros sobre isso. Se alguém aceitar esse ponto de vista, isso significaria o fim não apenas de toda a filosofia, mas do pensamento racional em geral. Isso reduziria todo pensamento à mera subjetividade e relatividade absoluta, em que minha verdade é tão boa quanto sua 'verdade', já que toda verdade é meramente opinião subjetiva.

No lugar do conhecimento, teríamos apenas opinião. No lugar da ciência, fé.

Como materialistas consistentes, os marxistas rejeitam esse ponto de vista. O materialismo filosófico afirma a primazia da matéria sobre as ideias e explica que as ideias, o pensamento, etc. são apenas as propriedades da matéria organizadas de uma certa maneira.

Vamos, portanto, nos dar ao trabalho de responder à questão colocada por Pôncio Pilatos. Por verdade queremos dizer o conhecimento humano que reflete corretamente o mundo objetivo, suas leis e propriedades.

Toda a ciência se baseia precisamente no fato de que:

a) o mundo existe fora de nós, e

b) em princípio, podemos entendê-lo.

A prova dessas afirmações, se provas fossem necessárias, consiste em mais de 2.000 anos de avanço da ciência, isto é, no avanço constante do conhecimento sobre a ignorância.

É evidente que, em qualquer ponto dado no tempo, haverá naturalmente muitas coisas que não sabemos. E como a natureza abomina o vácuo, essas lacunas em nosso conhecimento podem ser facilmente preenchidas por todos os tipos de absurdos religiosos e místicos. O chamado "princípio da indeterminação", com o qual Ben Curry lida em seu artigo sobre idealismo na física quântica, é um excelente exemplo desse misticismo no mundo da ciência. É o equivalente àqueles mapas antigos do mundo, onde as regiões inexploradas são marcadas com as palavras: “ Aqui há monstros ”.

Mas há uma grande diferença entre dizer “ Não sabemos” e “Não podemos saber”. Há sempre muitas coisas que não sabemos. Mas o que não sabemos hoje, certamente saberemos amanhã. O processo de conhecer o mundo avança precisamente ao penetrar os segredos da natureza, avançando e aprofundando constantemente nosso conhecimento do mundo material.

A busca pela verdade é um processo sem fim de aprofundamento cada vez mais profundo na Natureza. O progresso da ciência é um processo constante de afirmação e negação, onde uma ideia nega outra, e por sua vez é negada, como Adam Booth explica em seu artigo sobre a crise na ciência hoje. Esse processo não tem limites; ele não conhece barreiras intransponíveis, e toda vez que uma barreira é encontrada, ela é eventualmente passada e negada.

A contradição entre o "sujeito" consciente e o "objeto" externo é, portanto, superada pelo processo de conhecimento, de penetração cada vez mais profunda no mundo objetivo – não apenas por meio do pensamento, mas acima de tudo pela aplicação do trabalho humano, pelo qual a humanidade transformou o mundo e, no processo, também se transforma.

Toda a história da ciência não é nada mais do que uma luta constante para chegar à verdade, passando da ignorância ao conhecimento. Essa busca sem fim pela verdade é sinalizada pela ascensão e queda de diferentes teorias, cada uma das quais contradiz o que veio antes, mas ao mesmo tempo retém seu conteúdo essencial.

Em um livro notável chamado A Estrutura das Revoluções Científicas (publicado pela primeira vez em 1962), Thomas Kuhn define um paradigma científico como: “conquistas científicas universalmente reconhecidas que, por um tempo, fornecem problemas e soluções modelo para uma comunidade de praticantes”.

Por um tempo, o paradigma existente é considerado absolutamente válido e correto. Esses longos períodos de continuidade e progresso cumulativo representam períodos de “ciência normal”. O paradigma existente é universalmente aceito, e é isso que permite que a ciência avance de forma ordenada, dentro de uma estrutura teórica geralmente aceita.

No entanto, todas as teorias devem ser constantemente testadas por meio de observação e experimento. Ao longo de um período, certas anomalias aparecerão, mas elas não parecem apresentar um desafio sério aos paradigmas existentes. Em um certo ponto no tempo, no entanto, a quantidade se transforma em qualidade. As contradições se acumulam e, eventualmente, levam ao colapso do antigo paradigma, que deve ser substituído por um paradigma novo e superior. O status quo é repentinamente interrompido por períodos de “ciência revolucionária”.

Um exemplo marcante da crise kuhniana e da revolução científica está atualmente acontecendo diante de nossos olhos – ou melhor, a portas fechadas – no campo da cosmologia. Por décadas, a compreensão científica e o estudo do universo foram baseados no chamado "Modelo Padrão". Isso inclui a afirmação de que toda a matéria, tempo e espaço se originaram em uma singularidade do "Big Bang", estimada em ter ocorrido há cerca de 14 bilhões de anos.

No entanto, observações recentes de galáxias distantes fornecidas pelo Telescópio Espacial James Webb começaram a lançar sérias dúvidas sobre essa teoria comumente aceita. Dentro dos limites do modelo do Big Bang, não há como essas galáxias distantes serem tão grandes e desenvolvidas quanto são. A evidência mais recente, em outras palavras, é uma grande anomalia, que contradiz o paradigma atual.

Assim como Kuhn previu, isso provocou uma crise dentro da comunidade científica. Uma seção está enterrando a cabeça na areia, tentando fornecer mais falsificações para fazer os fatos se encaixarem em sua teoria quebrada. Outra seção está exasperada e está começando a questionar todo o modelo – no qual muitas carreiras e reputações são baseadas.

Por enquanto, esses debates estão ocorrendo em grande parte fora da vista, entre o establishment científico e longe de olhares curiosos. Mas eventualmente a crise dentro da cosmologia explodirá em campo aberto, abrindo caminho para uma mudança de paradigma – uma revolução – na arena da física fundamental.

Relativo ou absoluto?

Por um período considerável de tempo, aceitamos o paradigma existente como uma verdade absoluta. Somente na análise final, quando a verdade absoluta revela sua natureza incompleta e contraditória, seu caráter essencialmente relativo e transitório se torna claro. Mas temos o direito de tirar desse fato a conclusão de que não existe tal coisa como verdade e, portanto, como Pôncio Pilatos supôs, é inútil até mesmo tentar defini-la?

Não. Não temos o direito de concluir tal coisa. A verdade não é algo absoluto, dado e fixo para todo o tempo. É um processo que se move por um ciclo sem fim de constantes contradições, afirmações e negações. A história da ciência e da tecnologia e todo o curso do desenvolvimento social humano serviram para definir, aprofundar e verificar o conhecimento.

Nesse sentido ( e somente nesse sentido ) a verdade pode ser dita relativa. É o processo de desenvolvimento em constante evolução, que nunca está em repouso, mas constantemente se esforçando para cavar mais fundo nos segredos do universo. É esse tema que Goethe abordou em sua obra-prima épica Fausto , que Josh Holroyd explora nesta edição.

É isso que não permite que a verdade se transforme em dogma, na medida em que nunca chegaremos a um Absoluto imutável, porque o próprio universo é infinito e está em constante mudança, sem começo nem fim.

A verdade não pode ser encontrada em algum resultado final imaginário que resolva todas as nossas dúvidas e dificuldades, mas no processo de descoberta sem fim que, por si só, nos permite desvendar gradualmente, um por um e passo a passo, os segredos do maravilhoso, complexo e infinitamente belo universo material.

Hegel escreveu em A Ciência da Lógica que é da natureza do finito ultrapassar seu limite, negar sua negação e se tornar infinito.

Essa é uma verdade muito profunda. A busca da humanidade por conhecimento sempre se deparará com barreiras que, à primeira vista, parecem intransponíveis. Mas as barreiras são eventualmente superadas, apenas para produzir novas barreiras e desafios, que por sua vez precisam ser superados.

Se estivermos em busca de uma verdade absoluta, que finalmente nos permitirá dizer: “agora entendemos tudo, e não há mais nada a descobrir”, esse dia nunca chegará.

O universo é infinito, mas a capacidade do conhecimento humano é tão infinita quanto o próprio universo . E o único Absoluto é a mudança.

Em última análise, é esse processo infinito de aprofundamento de todo o conhecimento do universo que constitui a verdade.

O que isso significa para o marxismo?


Que implicações podemos tirar com relação ao próprio marxismo? Podemos dizer que as ideias de Marx e Engels permanecerão válidas para todo o sempre? Isso pareceria ir contra a própria essência dialética do marxismo.

Seria um exercício fútil tentar antecipar todas as muitas mudanças complexas no pensamento humano que inevitavelmente ocorrerão no futuro. Não tenho desejo de me envolver em tal especulação vazia. No entanto, podemos ter certeza de que em algum momento no futuro, novas ideias surgirão que substituirão as ideias antigas – embora, como Hegel explicou, seja frequentemente um processo de descartar ideias desnecessárias, preservando tudo o que foi valioso, útil e necessário do passado.

Essas observações devem se referir ao marxismo, assim como a tudo o mais. No entanto, neste momento, as ideias do marxismo, sem dúvida, ganharam o direito de serem levadas a sério como um guia necessário para a ação. O mesmo não pode ser dito das ideias miseráveis ​​da burguesia, que se mostraram falsas em um campo após o outro.

Basta apontar o fato de que um número crescente de economistas burgueses está agora estudando as páginas de O Capital em um esforço para entender a atual crise do capitalismo, que nenhum deles foi capaz de prever ou explicar.

Durante toda a minha vida adulta, fiz do estudo do marxismo meu negócio. Também me dei ao trabalho de ler as obras dos críticos do marxismo e considerei uma série de teorias alternativas. Mas nenhuma dessas teorias pode ser comparada ao brilho e à profundidade daquele corpo titânico de obras que foi produzido por Marx, Engels, Lenin e Trotsky.

Essas ideias sozinhas resistiram ao teste do tempo. Podemos, portanto, deixar com segurança para o futuro nos fornecer algo melhor. Até que esse dia feliz amanheça, continuarei a me basear nas sólidas fundações do socialismo científico, que, até que alguém possa me convencer do contrário, continuarei a considerar como verdades absolutas – pelo menos no presente. E isso é bastante suficiente.

DISPONÍVEL EM: https://communist.red/what-is-truth-in-defence-of-marxism-magazine-48-out-now/


Parem o genocídio de Gaza

Tulio Barbosa - outubro de 2024

As mortes estão multiplicando a cada dia na Palestina, no Líbano e no Iêmen.

É preciso parar esse genocídio.

Governo Lula precisa exigir o fim desse massacre promovido por Israel.

Precisamos condenar o Estado de Israel como agente destruidor de todo um povo.

Israel pare de matar crianças.


Apoio a Greve das professoras e professores de Minas Gerais

Tulio Barbosa - MARÇO de 2022

PISO SALARIAL É DIREITO.

PROFESSORAS E PROFESSORES MERECEM RESPEITO.

ZEMA PAGUE 


Ensino médio (medíocre)?

Tulio Barbosa - julho de 2021

As classes dominantes tem na educação uma grande aliada, pois em nome da educação se pode constituir as maiores barbaridades contra o povo pobre e oprimido. Assim, as reformas educacionais sempre tiveram as justificativas voltadas para melhorar a educação, todavia, nunca houve, de fato, melhoria na educação oferecida para o povo pobre. Não se ensina a construção de um caminho científico ou mesmo um caminho de intervenção política e imediata na realidade. A escola ensina conteúdos e esses passam pelas alunas e alunos de forma direta sem dialogar com sua condição de vida. 

A reforma do ensino médio argumenta que os conteúdos não agradam aos estudantes e tornam a escola um lugar desagradável para aprender, ou seja, argumentam que a escola precisa ser mais atraente. Bem como buscam constituir a aptidão pela especialização dos conhecimentos desde a adolescência, ou seja, não existe uma preocupação em formar uma sociedade a partir do pensamento reflexivo de bases científicas, culturais e históricas. Não existe um movimento para que a ciência em todas as suas dimensões formem, de fato, mulheres e homens cientistas. 

Ao tecer os conteúdos pela BNCC o Estado estabelece um conjunto de temas e problemas que limitam a relação real entre o sujeito que aprende, o mundo vivido e o planejamento da própria existência.

O conhecimento escolar estará vinculado as exigências da BNCC confirmando uma escola distante das pessoas, ou seja, uma escola formativa não no sentido amplo, mas da especificidade das exigências do Estado, todavia, o Estado não criou ou fundamentou um escola que direcionasse alunas e alunos para a ampla compreensão do seu papel na sociedade por meio da participação científica, política e histórica. A preocupação dessa reforma é simplesmente compactuar com um conjunto de valores que atrelam diretamente o conhecimento ao mercado e não aos interesses para melhorar o próprio país.

Deste modo, destacamos que a mudança central está na carga horária dos alunos e alunas e, deste modo, serão adotados conhecimentos a partir de uma base curricular comum e com isso haverá a escolhas de um itinerário formativo. Logo, tais mudanças efetivarão uma relação entre escola e empresa, escola e mercado, escola e profissão, subtraindo pouco a pouco o conhecimento como construção social para a transformação da nação em lugar mais justo, fraterno e plural.